ESTÂNCIA DA HARMONIA
Paulo de Freitas Mendonça
Vim p'ra Estância da Harmonia
Harmonizar o pensamento,
Trançar um laço de tentos
E continuar a vida campeira
De minha campanha altaneira,
Pois sou campeiro,
Vou domar aquele potro
E soltar lá no potreiro.
Depois, já de tardezita
Me achego para o galpão
E ao cevar um chimarrão
Vou para o lado das canchas,
Com o palheiro que é uma
tocha
De fumo bom, bem picado
E enrolado na palha de milho
Da safra do ano passado;
Ainda pitando o palheiro
E também chimarreando,
Sou taura e não me acanho,
Convido entre a peonada
Um piazote, quase moço
Que venha sem alvoroço
Aprender a dar
clavadas
No bueno
jogo do osso.
Dizem que à noite haverá
fandango
No galpão grande da frente,
Convidaram tanta gente,
Quase virá o povo inteiro
E eu fico mui faceiro
Igual cusco em carneação,
Revivendo as campereadas
Emboira longe do meu rincão.
Domingo haverá carreira
Lá embaixo na cancha reta
E a indiada fica inquieta,
Loucos p'ra ganhar pratas;
Mal se pode esperar o momento
E ver qual o parelheiro
Que tem mais talento
E mais firmeza nas patas.
Depois haverá churrasco
E penha crioula com
pajadores,
Poetas, gaiteiros,
Violeiros e cantadores,
Expressando em diversas
maneiras
Sua fé ao gauchismo,
N'alma que há em cada um
Enobrecendo o nativismo.
Dizem que na sombra do salso
Haverá sapateado,
Que é um gesto de reverência
Que faz um gaúcho apessoado,
E gritar p'ra existência
Que somos
um povo honrado,
Que amamos esta querência,
E por ela morreremos empatriados.